Moçambique & Literatura - Uma invulgar primeira edição do segundo livro de João Pedro Grabato Dias (heterónimo de António Quadros), integrado na colecção ‘Moçambicana’ em edição do autor em 1971 em Lourenço Marques (actual Maputo), um personagem tão desconcertante quanto fascinante, inconformista e brilhante nos seus sete ofícios
‘Uma meditação, 21 LAURENTINAS e dois Fabulários Falhados’
De João Pedro Garbato Dias
Capa e Edição do autor
Introdução de Maria de Lurdes Cortez
Impressão na Tempográfica, S.A.R.L.
Lourenço Marques 1971
Livro com 54 páginas, ilustrado e em muito bom estado de conservação. Excelente.
De muito difícil localização.
MUITO RARO.
Sobre o Autor:
“Uma das figuras mais complexas e inquietantes da cultura moçambicana e portuguesa. Pintor, poeta, contista, arquitecto, gráfico, pedagogo, entre outros ofícios executados através de uma ironia perturbadora.“
Nelson Saúte in jornal ‘Público’
‘A tonta partida dos Deuses’ (16 de Julho de 1994)
O Autor e a sua Obra:
“João Pedro Grabato Dias (1933 - 1994)
João Pedro Grabato Dias é o poeta de «voz singular ulcerada e mitológica, ensimesmada, onírica, ironicamente realista, brutal, descabelada, ardentemente bizarra, reveladora de um mundo fantasmagórico e quase demasiado verdadeiro, traduzido por uma extraordinária 'fauna léxica' que a um tempo nos subjuga e desorienta...» (Eugénio Lisboa) que habita o corpo do pintor e escultor António Quadros, professor da Faculdade de Arquitectura do Porto e pela mesma doutorado, de seu nome todo António Augusto Melo de Lucena e Quadros.
A coincidência não é pacífica, pois que pintor e poeta sempre a recusaram, tendo este último chegado mesmo ao ponto de juntar aos seus versos uma biografia bem divergente da do cidadão Quadros. Aliás, em antiga polémica com um poeta homónimo, o pintor salientara já que Quadros é que estava bem para pintor, aconselhando o seu homónimo, porque poeta, a assinar Quadras. Há portanto que tratar como personagens diferentes o pintor e o poeta, posto que, por comodidade e uso legal já antigo se tenham de meter os dois no mesmo saco, quer dizer na mesma entrada.
Assim, o doutor António Augusto Melo de Lucena e Quadros, António Quadros quando pintor e escultor, João Pedro Grabato Dias quando editor de poesia ou poeta, uma vez até e nesta última qualidade Mutimati Barnabé João, nasceu em Viseu em 1933 e diplomou-se em pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde chegou a exercer actividade docente. Em 1958 e 1959 estudou gravura e pintura a fresco na Escola de Belas Artes de Paris, como bolseiro. E no início dos anos sessenta foi para Moçambique, onde exerceu funções docentes na Escola Técnica de Lourenço Marques e, depois, na Universidade Eduardo Mondlane, ao longo de vinte e cinco anos. Foi ali, exactamente em 1968, que se revelou o poeta João Pedro Grabato Dias que, aliás, se diz: «Nascido em Inhaminga (Moçambique). Mestiço de hindustano, celta, judeu e com prováveis avós nos Concheiros de Muge.»
Revelação do ‘Prémio Literário de Poesia da Câmara Municipal de Lourenço Marques’, que ganhou e nunca se apresentaria a receber, estreou-se em livro em 1970 com ‘40 e Tal Sonetos de Amor’ e ‘Circunstância e Uma Canção Desesperada’, que logo teria grande acolhimento de leitores e críticos. Publicaria ainda com igual sucesso outros livros até que, em 1972, se apresentou como ‘editor’ do longo e espantoso poema em dez cantos ‘As Quybyrycas Poema Éthyco’ em Ovtavas que Corre Como Sendo de Luis Vaaz de Camões em Suspeitíssima Athribuiçon de ‘Frey Ioannes Garabatus’, um pretenso seu antepassado.
Grabato Dias foi também co-editor e co-director, com Rui Knopfli, dos cadernos de poesia ‘Caliban’ (1971-1972).
Em 1975, com a independência de Moçambique a comemorar-se, o poeta João Pedro Grabato Dias fez publicar, com o pseudónimo de Mutimati Barnabé João (‘Mutimati é a voz individual que corporiza a voz colectiva’, diz o autor, posto que, na realidade Mutimati fosse o nome do seu criado, Barnabé o do seu gato e João o do seu filho), uma colectânea de poemas sob o título de ‘Eu o Povo’, onde são assumidos de forma genial e algo pérfida todos os mitos do movimento político e militar vitorioso.
Em 1985, ainda em Moçambique, João Pedro Grabato Dias publicaria numa primeira edição que afirma ter sido apenas de três exemplares, o livro ‘Facto-Fado: Piqueno Manual de Morfologia’ dedicado ‘A Cesário, o verde/Alexandre anil/José Furtacor/poetas/de acto e facto’.
Tendo regressado a Portugal em meados da década de oitenta, António Quadros doutorou-se em 1987, em Arquitectura, pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde então já era docente. Quanto ao poeta Grabato Dias, tem anunciados alguns livros que, em prejuizo da poesia portuguesa, continuam inéditos.”
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999
O Autor:
“JOÃO PEDRO GRABATO DIAS, heterónimo de António Augusto de Melo Lucena e Quadros (Nasceu em Viseu, 1933 - faleceu em Santiago de Besteiros, 1994), estudou Pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, e Gravura e Pintura a Fresco em Paris.
Em 1964 parte para Lourenço Marques. Foi pintor e professor, mas também artista gráfico, ilustrador, ceramista, escultor, fotógrafo, cenógrafo e pedagogo. Trabalhou em arquitectura, apicultura, comunicação, biologia e ecologia, privilegiando uma abordagem interdisciplinar.
Escreveu e publicou poesia sob diferentes pseudónimos: João Pedro Grabato Dias, com ‘40 e Tal Sonetos de Amor e Circunstância’ e ‘Uma Canção Desesperada’ (1970), ‘O Morto’ (1971), ‘A Arca’ (1971), ‘21 LAURENTINAS’ (1971), ‘Pressaga’ (1974), ‘Facto/Fado’ (1986), ‘O Povo É Nós’ (1991) e ‘Sagapress’ (1992); ‘Frey Ioannes Garabatus’, com o poema épico-paródico ‘As Quybyrycas’ (1972, prefácio de Jorge de Sena); ‘Mutimati Barnabé João’, ficcionado guerrilheiro morto em combate, com os poemas ‘Eu, o Povo’ (1975).
Coordenou, com Rui Knopfli, os cadernos de poesia ‘Caliban’.
Regressa a Portugal em 1984, e lecciona na Universidade do Algarve e na Faculdade de Arquitectura do Porto, continuando a pintar e a escrever. Uma parte da sua obra plástica está antologiada no livro ‘O Sinaleiro das Pombas’ (2001).”
Preço: 0,00€; (Indisponível)
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