Angola - colonialismo & Literatura - A luta de libertação dos angolanos descrita por um dos primeiros elementos da guerrilha do MPLA
'AS SEMENTES DA LIBERDADE'
De Santos Lima
Editora Civilização Brasileira
Brasil 1965
Livro com 120 páginas e em muito bom estado de conservação.
De muito difícil localização.
Muito Raro.
Da dedicatória:
"A gente de Catu povoou os meus sonhos e pesadelos de criança, encheu a minha boca de riso, entre ela se inundaram os meus olhos.
Este livro é a recordação dum mundo que não poderia esquecer sem trair o menino negro que a minha mãe embalou."
Da badana:
"A LUTA DO POVO ANGOLANO
Santos Lima, um homem de trinta anos, pertence à nova geração da literatura angolana. Filho de modesto funcionário público, a sua infância decorreu no interior, lá onde as diferenças entre negros e brancos são mais acentuadas e o clima social mais agreste.
'AS SEMENTES DA LIBERDADE' - romance que aborda a problemática colonial - foi extraído da realidade quotidiana nas regiões mais adentradas do seu país. Passa-se em Catu, nome imaginário que deu a Teixeira Soares, pequena vila na fronteira com o Katanga, no extremo dos Caminhos de Ferro de Benguela. Aí transcreveu a sua meninice e aí conheceu alguns dos seus personagens. Estes, no entanto, intervêm no romance com características que os tornam irreconhecíveis aos seus próprios olhos. A ficção, assim, funciona no romance apenas como elemento coordenador dos factos ou da sua concentração no cenário.
Santos Lima, depois de feitos os seus estudos em Portugal, retornou a Angola em 1937, e falando com a gente da sua terra, auscultou-lhe as dores, mediu-lhe a raiva e pressentiu no seu povo a explosão nacionalista de 1961. É um escritor participante. Representou Angola no 'I Congresso Internacional de Escritores e Artistas Negros', reunido em Paris em 1957 e em 1962 compareceu ao 'Congresso de Escritores Afro-Asiáticos', realizado no Cairo. Até 1957 só escrevera poesias, mas já nessa altura havia recolhido muito material que iria aproveitar no seu romance, que é uma visão dos problemas que afligem o povo angolano.
Em 'AS SEMENTES DA LIBERDADE' o autor preocupou-se com pessoas e factos. Eis porque procurou fugir o mais possível ao regionalismo de tipo folclórico, no qual certa corrente de autores indígenas tem pretendido buscar ou provar a sua angolanidade, e ao exotismo, ingrediente característico e excitante da chamada literatura 'colonial'. E isso por que se a diversidade dos cantos e danças angolanas o encantam, a unanimidade das lágrimas do seu povo não o podia deixar passivo e acomodado a uma situação de 'assimilado' privilegiado. Esta concepção de vida, forçou-o a desertar em 1961 do Exército Português, onde tinha o posto de Alferes, ligando-se à insurreição angolana.
Com 'AS SEMENTES DA LIBERDADE', Santos Lima quis denunciar a opressão colonial portuguesa e focalizar a formação de uma classe mista de negros e brancos deserdados e postos conjuntamente à margem, pela sua situação económica deficitária. Visou ferir, ainda, alguns problemas que dividem, opõem ou - às vezes - aproximam negros e brancos, como seres humanos e, igualmente, apontar aspectos do problema do mestiço, na sua dupla qualidade de produto e instrumento coloniais.
'Escrevi 'AS SEMENTES DA LIBERDADE' - afirmou Santos Lima - porque amo o meu Povo e a sua Causa é a minha, porque amo a Liberdade e ao serviço de ambos coloco a minha pena. A mensagem é de união, de combate e de esperança e de fraternidade com todos os povos oprimidos.'
No decorrer do romance, Santos Lima cita várias vezes o Brasil, mas não o faz por acaso, antes pelas inúmeras afinidades reais, que temos com Angola, com também pela profunda simpatia e admiração que nutre pelo povo brasileiro - 'um pedaço do meu' - diz o escritor - 'que Jorge Amado me revelou, desde o tempo em que os seus livros, em Portugal, só podiam ser lidos clandestinamente.'
O romance de Santos Lima não é feito somente de denúncias e violências. Irradia também forte e comunicativo lirismo e se fundamenta em profundo amor aos valores humanos - os valores humanos que as ditaduras e o imperialismo desprezam, aviltam e sufocam se não encontram oposição. Este romance - cheio das vivências do autor - dói e fere as sensibilidades, põe em relevo os sofrimentos e a revolta de uma população que anseia pela liberdade e pela justiça'
MÁrio da Silva Brito - Director Editorial"
Da contra-capa:
"UMA VISÃO DRAMÁTICA DE COMO O POVO ANGOLANO LUTA POR SUA LIBERTAÇÃO.
Com 'AS SEMENTES DA LIBERDADE' primeiro romance angolano que se publica no Brasil, Santos Lima denuncia a opressão colonial portuguesa e expõe, em termos de ficção, a um tempo violenta e lírica, a situação de preto, brancos e mestiços marginalizados pelo imperialismo salazarista."
MANUEL GUEDES DOS SANTOS LIMA:
"Nasceu a 28 de janeiro de 1935, em Cassamba, Silva Porto (atual Cuíto), na província do Bié, em Angola. Publicou até ao momento um livro de poemas ('KISSAMNGE', 1961), uma peça de teatro ('A PELE DO DIABO', 1977) e três romances ('AS SEMENTES DA LIBERDADE', 1965; 'AS LÁGRIMAS E O VENTO', 1975; 'OS ANÕES E OS MENDIGOS', 1984). Este volume assinala a passagem do 80º aniversário de um escritor importante da literatura angolana, mas que não tem sido valorizado como entendemos que merece: em parte pela sua vivência tricontinental, em parte pela sua divergência política, a partir de certa altura, com Agostinho Neto e o MPLA, em parte ainda pela contundência da sua crítica à geração da distopia contida no romance 'OS ANÕES E OS MENDIGOS'. "
Fonte:
https://sigarra.up.pt/flup/pt//pub_geral.pub_view?pi_pub_base_id=172879&pi_pub_r1_id=
Obras do Autor:
1. - ‘KISSAMGE’ - (Poemas) - 1961;
2. - ‘AS SEMENTES DA LIBERDADE’ - (Romance) - 1965;
3. - ‘A PELO DO DIABO’ - (Teatro) - 1977;
4. - ‘AS LÁGRIMAS E O VENTO’ - (Romance) - 1975 1.a edição e 1989 2.a edição;
5. - ‘OS ANÕES E OS MENDIGOS’ - (Romance) - 1984;
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