segunda-feira, 30 de março de 2015

Angola & Guerra Colonial - 'KIANDA, O RIO DA SEDE', de Álvaro Fernandes - Lisboa 1996 - Muito Raro;



Angola - A guerra colonial vista por um capitão de Abril que ajudou a derrubar o regime


'KIANDA, O RIO DA SEDE'
De Álvaro Fernandes
Prefácio de Baptista Bastos
Edição Dinossauro
Lisboa 1996


Livro com 152 páginas e em muito bom estado de conservação.
De muito difícil localização.
Muito Raro.

O autor, capitão de Abril e pertenceu ao MFA (Movimento das Forças Armadas), que contribuiu para a queda do regime ditatorial do Estado Novo em 25 de Abril de 1974, então liderado por Marcelo Caetano.


Do prefácio:
"Não é outra, mais outra novela de guerra. É uma novela de guerra, que conversa connosco sobre a guerra particular dos sentimentos (das emoções = da ternura), das relações entre as pessoas, dos medos e das perplexidades. Claro que a guerra, para além de essas todas, é uma presença constante, quase obsidiante.
(...) A guerra como fatalidade histórica? Nada disso. A guerra, a explosão da morte na condição humana como um dos ângulos (nem negativo, nem positivo), apenas um dos ângulos."
Baptista Bastos



Do livro:
"(...) Quando a cadência de tiro inimigo começou a diminuir, o capitão mandou suspender o fogo de armas pesadas e ordenou o assalto, correndo para os destroços do abrigo à sua frente. Mas não chegou lá.
Nessa altura já Temudo tinha ordenado a retirada, encarregando Chifuta da protecção à retaguarda, como garantia que os oito guerrilheiros e a mulher que tinham sobrevivido ilesos ao ataque conseguiriam fugir da base.
Com o dorso crivado de estilhaços, Chifuta introduziu o carregador que lhe restava e mudou a patilha da kalashe para a posição de rajada. Apontou ao primeiro vulto que lhe surgiu e só largou o gatilho quando as munições se esgotaram.
Atingido num ombro e numa perna, André arrastou-se para trás dum montículo de terra entregando o comando ao alferes Dinis.
Recuperou a consciência a bordo de um helicóptero e, quando olhou para baixo, viu um rio que não conhecia. Negro como chumbo, o Kianda rugia em ondas colossais, numa fúria telúrica, qual animal ferido que se agarra à vida e ameaça a própria morte.
Seria delírio, ou o mar? (…)"



ÁLVARO HENRIQUE FERNANDES
Oficial do exército português na situação de Reserva. Nasceu em Luanda há 53 anos. Durante a guerra colonial fez comissões em Moçambique (Alferes e Tenente, 1965-68) e Angola (capitão, 1970-72).
Integrado no MFA, PARTICIPOU NAS OPERAÇÕES MILITARES DO GOLPE DE ESTADO DE 25 DE ABRIL DE 1974. Colocado a seguir no COPCON, teve papel activo no apoio ao movimento popular que alastrou no país. No 'Verão Quente' de 1975 foi co-autor do 'Documento do COPCON' (12 de Agosto) e presidiu à assinatura do protocolo de criação da FUR (Frente de Unidade Revolucionária) no extinto Centro de Sociologia Militar (25 de Agosto).
Depois do 25 de Novembro exilou-se em Paris, onde obteve o estatuto de refugiado político da ONU e foi jornalista da 'Rádio France Internationale'. Regressado a Portugal em 1978 esteve preso nos fortes da Trafaria e Caxias, durante seis meses, sendo expulso do exército. foi então redactor do jornal 'Em Marcha' e da revista 'Patuleia'. Reintegrado nas fileiras quatro anos depois.
Figura na 'Força nova - Antologia de novos poetas angolanos' (Luanda 1960); Publicou 'PORTUGAL - NEM TUDO ESTÁ PERDIDO' (Ulmeiro 1976), e 'BERÇOS DE RENDA, ENXERGAS DE TRAPOS' ('Em Marcha' 1981): co-autor do 'Guia do Terceiro Mundo' (Tricontinental 1992).
Da contra-capa.


Outros livros editados:
- 'PORTUGAL - NEM TUDO ESTÁ PERDIDO', Ulmeiro 1976;

"Fernandes é um militar operacional, um estratega, e isso vem demonstrado na sua forma de escrever"
José Amaro
- 'BERÇOS DE RENDA, ENXERGAS DE TRAPOS', 'Em Marcha' 1981;
"O que mais me espanta (...) é a forma como ele consegue em tão poucas páginas caracterizar o ambiente da sociedade colonial-fascista (...) dando-nos com com inesperada exactidão as linhas mestras de um tempo e lugar."
Mário Tomé


Preço: 37,50€; 

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