sábado, 1 de abril de 2023

Moçambique & Literatura - ‘MANGAS VERDES COM SAL’, de Rui Knopfli - Lourenço Marques 1972 - MUITO RARO;





Moçambique & Literatura - Um poeta de raízes africanas com uma vasta obra de cariz marcadamente influenciada pelo continente do seu nascimento 


‘MANGAS VERDES COM SAL’ 
De Rui Knopfli 
Edição Minerva Central 
Lourenço Marques 1972 


Livro com 180 páginas e em muito bom estado de conservação. Excelente. 
De muito difícil localização. 
MUITO RARO.


NOTA de Eugénio Lisboa: 
“Pediu-me Rui Knopfli este disparate: que juntasse, à guisa de prefácio, ao seu livro que agora se publica, duas linhas sobre a tão falada quão antologiada (cá dentro e lá fora) Poesia de Moçambique. O disparate é juntar ao livro de um poeta conhecido, três linhas de um prefaciador desconhecido. Mas o Rui lá sabe as linhas com que se cose e eu suponho que também começo a saber.

Houve da sua parte três partes de generosidade e uma parte de maldade. A generosidade, sabe-se porquê; a maldade, digo eu porquê. O Rui sabe há muito o que penso deste tão falado (quão embrionário) fenómeno, que é ainda a Poesia em Moçambique: o que tenho dito e escrito das antologias dos Srs. Alfredo Margarido e Luiz Forjaz Trigueiros e também das prosas altamente adjectivantes do Sr. Amândio César. Creio que umas valem mais ou menos bem as outras. E ao convidar-me para vir aqui, livremente, debitar o meu vinagre milenário, delega, desta vez, noutro, o impopular de que já ocasionalmente se tem desempenhado: dizer aos nossos divulgadores metropolitanos que a Poesia em Moçambique é outra coisa, que a Poesia, mais simplesmente, é outra coisa; que se deixem disso, se o fenómeno literário os não interessa sèriamente [sic] como literatura (ainda que possa também, sem inconveniente de maior, interessá-los como outras coisas): dizer ao Alfredo Margarido que se lembre do Alain que afirmava ser a Poesia «uma forma de fazer e não uma forma de pensar; [sic] que «a literatura social é apenas uma espécie de literatura e não é o núcleo da literatura»; que a representatividade social de um poeta não é medida da sua grandeza poética visto que, se o fosse, era o Joaquim Namorado, por representar «mais gente» do que o Antero ou o Pessoa, por certo maior poeta que o Antero ou o Pessoa; que é por isso escandaloso num prefácio de vinte e duas páginas, que antecede uma antologia de «Poetas de Moçambique», dedicar a Reinaldo Ferreira uma fracção de um parêntesis de uma linha, a pretexto de que este Poeta (juntamente com Glória de Sant’Anna) «se divorcia dos problemas imediatos», quando, no mesmíssimo prefácio arrasta um Fernando Ganhão, de cuja existência poética ninguém se apercebe, ao longo de quatro suculentas páginas onde de tudo se fala menos de Poesia; que a Noémia de Sousa é um mito que não vale a pena manter de pé, por mais simpatias que possam merecer as boas intenções dos seus poemas tão prolixos como balbuciantes. E dizer, por outro lado, aos Srs. Amândio César e Luiz Forjaz Trigueiros – e saindo um pouco da Poesia para o da Literatura, em geral – que nenhum intelectual sério, em Moçambique, pensou jamais em atribuir a mais pequena importância a nomes como os dos Srs. Rodrigues Júnior (prosador carregado de prémios, viagens, congressos e comendas) ou Guilherme de Melo (poeta e prosador, com edições na Metrópole, prémios de literatura e de popularidade e publicidade gratuita na TV). Que, do ponto de vista da literatura e da inteligência, tão estúpido é promover o Malangatana Valente a poeta (e traduzi-lo e antologiá-lo em inglês), como pretender-se que o Sr. Rodrigo Emílio (o da «Confluência») seja, para além de poeta, um «duro». E que tão mau é o Guilherme de Melo, reaccionário e delicodoce, como o fulano de tal, viril e auroral. Tudo diferentes maneiras de estar fora da literatura que não sabem o que seja e que não sabe quem eles são. Tudo maneiras de errar o alvo que não está nunca, por acaso, no sítio que eles visam.

Creio que foi um pouco para dizer as sábias gentilezas que acima se registam, que o Rui Knopfli me pediu, mefistofèlicamente [sic], para juntar ao seu nome de criador, o meu de arranhador. Sem vantagem visível para nenhum de nós: ele porque só tem a perder com a vizinhança, eu, porque nem o reflexo do seu nome servirá nunca para apagar a impopularidade compacta do monólogo teimoso e malcriado que é meu hábito debitar…”


O AUTOR: 
“RUI KNOPFLI
Rui Manuel Correia Knopfli (Inhambane, Moçambique, 10 de agosto de 1932 — Lisboa, 25 de dezembro de 1997) foi um poeta, diplomata e crítico literário e de cinema. 

Nasceu em Moçambique em 1932. 
Fez os seus estudos em Lourenço Marques e em Joanesburgo (África do Sul), tendo sido, entre 1954 e 1974, delegado de propaganda médica.

Publicou uma obra que cruza as tradições literárias portuguesa e anglo-americana. Integrou o grupo de intelectuais moçambicanos que se opôs ao regime colonial. Foi diretor do vespertino ‘A Tribuna’ (1974-1975). 

Com o poeta João Pedro Grabato Dias (o pintor António Quadros), fundou em 1972 os cadernos de poesia ‘Caliban’. 

Deixou Moçambique em março de 1975. A nacionalidade portuguesa não impediu que a sua alma fosse assumidamente africana, mas a desilusão pelos acontecimentos políticos está expressa na poesia que publicou após a saída da sua terra.

Tem colaboração dispersa por vários jornais e revistas.

Desempenhou funções de Conselheiro de Imprensa na Embaixada de Portugal em Londres (1975-1997). 

Morreu no dia de Natal de 1997 e está enterrado em Vila Viçosa. 

Prémios e reconhecimento
Foi condecorado pelo governo português: 
A 2 de fevereiro de 1980, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
A 27 de abril de 1993, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.
Ganhou o Prémio de Poesia do PEN Clube em 1984. 

Bibliografia: 
- ‘O País dos Outros’ - 1959; 
- ‘Reino Submarino’ - 1962; 
- ‘Máquina de Areia’ - 1964; 
- ‘Mangas Verdes com Sal’ - 1969; 
- ‘A Ilha de Próspero’ - 1972 - álbum dedicado à Ilha de Moçambique; 
- ‘O Escriba Acocorado’ - 1978; 
- ‘Memória Consentida: 20 Anos de Poesia 1959-1979’ - 1982; 
- ‘O Corpo de Atena’ - 1984; Prémio de Poesia do PEN Clube; 
- ‘O Monhé das Cobras’ - (Poesia), 1997; 
- ‘Obra Poética’ - 2003; 
- ‘Uso Particular’ - (antologia) - 2017; 
- ‘Nada Tem Já Encanto’ - (antologia) - 2017; “ 


Preço: 57,50€; 

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