sexta-feira, 22 de março de 2024

Angola - Guerra do Ultramar & Humor - ‘ZÉ DA FISGA - Humor Bélico’, de Nando (Fernando da Silva Gonçalves) - Luanda 1970 (?) - MUITO RARO;



















Angola - Guerra do Ultramar & Cartoons - O cartoon do ‘Zé da Fisga’ que não deixou indiferente nenhum militar e até os civis, desde os meados da década de sessenta e que ainda actualmente - mais de cinco décadas depois - faz sorrir e admirar as peripécias do boneco e dos problemas da caserna e da guerra 


‘ZÉ DA FISGA - Humor Bélico’ 
De Nando (Fernando da Silva Gonçalves) 
Edição do Autor 
Luanda 1970 (?) 


Livro com 64 páginas, totalmente ilustrado e em bom estado de conservação. 
De muito difícil localização. 
MUITO RARO.


O Autor, o personagem e a análise: 
“O cartoon ‘Zé da Fisga’, que representa o soldado português que combateu na Guerra do Ultramar, entre 1961 e 1974. Publicado na ‘NOTÍCIA’, revista com sede em Luanda (Angola), trata-se de um retracto crítico e humorístico, sem mortos nem feridos. Através do método análise de imagem é dada a conhecer uma das realidades sociais do conflito. 

Para Miguel Sousa Tavares, o humor ‘desarma, o que é bem mais eficaz na guerra. Há, aliás uma longa história da utilização dos cartoons em situação de guerra, como verdadeira arma de propaganda. […] Os cartoonistas eram uma espécie de exército de retaguarda, mobilizado para atacar o inimigo ridicularizando-o e para fortalecer o ânimo das tropas combatentes e civis.’ O humor do ‘Zé da Fisga’, apartidário, segundo o autor do desenho, servia para afastar a atenção de assuntos mais sérios relativos à guerra e para distrair os militares. 

O protagonista/personagem principal do cartoon, baptizado de ‘Zé da Fisga’, era jovem, vestia uniforme de campanha (camuflado) e no bolso direito transportava uma fisga. Segundo os cartoons publicados na ‘NOTÍCIA’, o ‘Zé da Fisga’ era incompetente, distraído e preguiçoso. Gostava de cerveja e adorava mulheres. O militar nunca aparece sozinho. No cartoon, existem personagens secundárias. Refiram-se um sargento autoritário, outros militares e mulheres de várias raças. 

O ‘Zé da Fisga’, cartoon que retractava os soldados portugueses destacados em Angola, ocupava sempre uma página inteira, a cores, no centro da revista. Era, portanto, um lugar de destaque. Foi publicado na ‘NOTÍCIA’ entre 1967 e 1968. Esta personagem foi criada por Fernando da Silva Gonçalves que, na revista, assinava o cartoon com o pseudónimo ‘Nando’. 
 
Fernando Gonçalves cumpriu serviço militar no Exército, em Portugal e em Angola. Desenhou o ‘Zé da Fisga’, no início da década de 60, para identificar a companhia à qual pertencia – Companhia de Caçadores 371. Antes de embarcar para a colónia, cansou-se de esperar pela distribuição de armamento e, por este motivo, deu ao desenho uma fisga. Desde então, a sua companhia passou a ser conhecida como a ‘Companhia do Zé da Fisga’. Posteriormente, o desenho foi aceite como brasão para ser usado com o uniforme de campanha. Em Angola, Fernando Gonçalves continuou a desenhar. As chefias militares aperceberam-se do talento do jovem e usaram-no para conquistar o apoio das populações. Fernando Gonçalves passou a desenhar imagens de acção psicossocial que depois eram lançadas pela Força Aérea Portuguesa nas matas de Angola. Em 1965, Fernando Gonçalves termina o serviço militar e permanece em Angola, onde constitui família. 

O ‘Zé da Fisga’ foi publicado pela primeira vez no jornal humorístico ‘O Miau’ e passou também pela revista ‘A Palavra’. No entanto, foi na ‘NOTÍCIA’ pela primeira vez a cores, que conquistou fama. Mais tarde, foi ainda publicado em formato postal e associado a anúncios publicitários de marcas de tabaco. 

O ‘Zé da Fisga’ mostrou uma guerra onde os militares nem se cruzavam com o inimigo. Assim se tranquilizava a opinião pública e os próprios militares, imaturos e com fraca instrução militar. 

O cartoon ‘Zé da Fisga’ é, sem dúvida, um dos muitos retractos possíveis do militar português que deixou a metrópole e partiu para a guerra. Não há nele toda a verdade, mas há nele parte da verdade e há nele também pormenores relevantes sobre o quotidiano do militar destacado. Este não é um retracto de todos os militares em geral, mas sim o retracto crítico e humorístico centrado no posto mais baixo da hierarquia militar – o soldado. 

Entre uma imagem e a realidade existe um caminho nem sempre fácil de percorrer. Analisar o ‘Zé da Fisga’ sem conhecimentos sobre a Guerra Colonial e a sociedade portuguesa das décadas de 60 e 70, na metrópole e nas províncias, não nos permite fazer a ligação correcta entre a imagem e a realidade. ‘A fotografia, o filme etnográfico […], os museus e outros recursos imagéticos […], colocam-se como recursos de investigação, por mais que tenham expressividade na percepção em torno dos fenómenos sociais, e, pela sua importância e complexidade aqui revelada, necessitam da reflexão crítica, da compreensão de que resultam de processos também complexos e relativos’. 

Segundo Nuno Severiano Teixeira, a ‘Guerra Colonial é indiscutivelmente um dos temas mais importantes da história recente de Portugal, que deixou marcas e continua ainda a ter marcas na sociedade portuguesa e que é necessário, é urgente que seja estudado. Historiadores mais jovens, sem experiência vivida e sem memória directa do acontecimento’ podem hoje, ‘com maior distanciamento histórico e com grelhas analíticas, fazer um estudo científico, um estudo teórico sobre esta área.’

Esta foi apenas uma das análises possíveis deste cartoon. As mesmas imagens poderiam ser também analisadas, a título de exemplo, pelo olhar de ex-combatentes. O resultado seria certamente outro.” 


Preço: 77,50€; 

Sem comentários:

Enviar um comentário

APÓS A SUA MENSAGEM INDIQUE O SEU E-MAIL E CONTACTO TELEFÓNICO
After your message, please leave your e-mail address or other contact.