quinta-feira, 9 de julho de 2020

Angola & Guerra Colonial - 'AUTÓPSIA DE UM MAR EM RUÍNAS', de João de Melo - Lisboa 2017;




Angola & Guerra Colonial - Uma obra de abordagem inédita do conflito ultramarino das décadas de sessenta e setenta, analisando os dois lados, deste consagrado autor açoreano


'AUTÓPSIA DE UM MAR EM RUÍNAS'
De João de Melo
Publicações Dom Quixote
Lisboa 2017


Livro com 350 páginas e em muito bom estado de conservação.
Como novo. Excelente.


Da contracapa:
"UM QUARTEL ERGUE-SE NO ALTO, SOBRE UM MORRO ESTRATÉGICO DE CALAMBATA, E DUAS ALDEIAS AFRICANAS, EM BAIXO, VIVEM AO CORRER DOS CAMINHOS DE IDA E VOLTA DA GUERRA.

'AUTÓPSIA DE UM MAR DE RUÍNAS', romance singular pela dupla perspectiva da guerra colonial que nos apresenta, comporta duas narrativas paralelas: uma centrada na acção dos militares portugueses no norte de Angola, outra num quotidiano de medo é de miséria, na revolta silenciosa e fria, na vitimização de duas sanzalas. Numa delas vivem pessoas de distintas etnias que para ali foram desterradas sob suspeita de relação familiar ou cumplicidade com os guerrilheiros; a outra aldeia fundaram-na os soldados que desertaram dos exércitos de libertação e se renderam à tropa, para com ela combater a guerrilha que se infiltrava em território angolano a partir da fronteira.

Eis, pois, um romance construído sobre duas linguagens, dois pontos de vista, duas razões sociais, duas histórias dentária História contemporânea do colonialismo e da guerra - a realidade adversa de dois universos humanos em situação de emergência. Se o assunto e a narrativa alternam ao longo do romance, é contudo n dupla linguagem do autor que se centra a diferença entre esses dois mundos em guerra, sob a vertigem do mal e através da criação de vozes e narradores distintos, no fulgor de uma escrita literária em sintonia com a experiência do vivido.

Este foi o mundo que o autor conheceu em Angola, ao longo de mais de dois anos de comissão, como enfermeiro militar, entre centenas de homens, mulheres e crianças, por conta das suas dores de alma, das suas doenças, dos males de viver e morrer na guerra. Nesse sentido, 'AUTÓPSIA DE UM MAR DE RUÍNAS' - agora profundamente revisto e reescrito com vista ao apuro definitivo da linguagem, que sempre esteve nas preocupações e na intenção do escritor - pode sugerir-nos um compromisso superior entre ficção e mundividência, do autor e de quantos viveram o seu requiem africano, o canto fúnebre da vida contra a morte."




Do ÍNDICE:

Capítulo 1
- Quem vem lá? - Bradou o soldado do alto do seu posto de sentinela.
Ouvira o que lhe parecia ter sido um suspiro de cansaço.

Capítulo 2
Confusão assim tinha memória antiga na cabeça das pessoas de Calambata.
A cor da terra falava nela, mesmo sem uma boca.

Capítulo 3
Pairava então sobre toda a paisagem do norte o tempo parado da guerra.
Tempo esse que nem sempre acontece.

Capítulo 4
Esse dia ainda, gente ia subindo a rampa que levava os caminhos de nossa sanzala até à porta de armas do Quartel. Estava já tarde.

Capítulo 5
Mal nos viram chegar, umas criaturas mornas, ossudas, de olhos famintos, que se tinham sentado no chão à porta das cubatas.

Capítulo 6
Os novos dias, na hora que trataram de ali chegar, puseram a vida um pouco mais sossegada com as pessoas todas de Calambata.

Capítulo 7
Ao chegarmos à cidade de São Salvador, vendo-os sentados na esplanada do Estrela do Congo, soubemos enfim quem eram.

Capítulo 8
E mesmo os soldados, imagina lá você, só lhe xingavam era como conversas chaladas, de gente sem tino.

Capítulo 9
Se ali houvesse uma igreja e uma torre com um sino e um relógio de fachada para nos recordar de vez em quando

Capítulo 10
A meio da tarde, ardia o sol por dentro das nuvens crespas e iluminadas que seguiam o curso do rio Tenda

Capítulo 11
Agora sim, pensei, tem de haver um músculo. Vai ter de abrir-se um músculo no meu olhar.
Depois a memória ferchar-se-á

Capítulo 12
Mal que o sol do dia se levantava, e sua luz ia crescendo nos braços do imbondeiro, em frente da casa, tinha bocados

Capítulo 13
Não sabem como são os mortos?

Capítulo 14
Nessa hora ainda, pessoas estavam só contar seus dias, pensando até que o tempo ficara de repente mais belo, menos triste na vida

Capítulo 15
Ardem ao longe, nas Anharas cobertas de capim seco, as nunca explicadas queijadas do Norte. Grossas colunas de fumo

Capítulo 16
Uma cor de bronze na pele, o suor nos músculos. Largos os chapéus com que cobriam a cabeça, o rosto, os ombros

Capítulo 17
À chegada das chuvas nómadas do Sul, a terra cobria-se de nuvens. Uma tristeza húmida entrava nos nossos olhos e enchia-os

Capítulo 18
Sentado no vão da porta da sua cubata, Cavungi deu fé o mundo tinha adormecido todo em volta.

Capítulo 19
Antes de entrarem na mata, o Alferes ordenou ao guia que se servisse da catana e desbastasse a rede vegetal que impedia

Capítulo 20
Subia o sol na manhã cheia de pássaros, quando as pessoas começaram se juntar no centro da sanzala

Capítulo 21
Podia ter começado a morrer num sonho, logo após o regresso da magina, no último dos oito dias de marcha

Capítulo 22
Todas estas e outras miúdas coisas aconteciam era na guerra, na paz podre dos dias e do tempo que tão cedo não iria

Capítulo 23
No dia em que eu morri na guerra, estava este mesmo sol de cloro, parado e exangue nas minhas veias

Capítulo 24
Foi uma noite assim como está, nenhuma estrela no céu da Calambata havia, nenhuma luz no olhar, nenhum choro



Preço: 25,00€;

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