sábado, 14 de janeiro de 2012

Portugal & Ultramar - ‘ANGOLA 1961-63 - DIÁRIO DE GUERRA’, de Etelvino da Silva Batista - Lisboa 2003 - Muito Raro;





Portugal & Ultramar - Um extraordinário diário de guerra, onde o autor descreve o seu dia-a-dia na frente de batalha cujo cenário foi o norte de Angola, então uma província ultramarina portuguesa, cujo conflito com os nacionalistas se iniciou em 1961, profusamente ilustrado com muitos pormenores da sua comissão militar dos dois primeiros anos 


‘ANGOLA 1961-63 - DIÁRIO DE GUERRA’ 
De Etelvino da Silva Batista 
Edição Três Sinais 
Lisboa 2003 


Livro de capas duras, grandes dimensões (30 x 30,4 cm), profusamente ilustrado e em muito bom estado de conservação. Excelente. 
De muito difícil localização.
Muito Raro. 

 
SINOPSE: 
“Etelvino Batista descreve uma Angola distante, tal como foi vivida e sentida, no dia a dia, por um soldado português. Ansiedades e angustias, retratos cruéis de dois anos agora publicados em livro. 
Palavras escritas todos os dias, sem arranjos literários, que a editora ‘Três Sinais’ foi buscar ao diário de Etelvino da Silva Batista, soldado que um dia foi para a guerra em Angola e por lá ficou de 1961 a 1963.
Logo nos primeiros dias da guerra, foi escrevendo para n;o se esquecer de quem era, mas afinal nunca se lembrou porque estava ali. Sem emendas literárias, tudo no papel como esteve estes anos todos, começa no dia 28 de Junho de 1961. 
‘Embarque ao meio-dia, no paquete Vera Cruz. Não posso descrever o que me custou a partida. Ainda muito depois de perdermos a costa de vista havia muitos camaradas que choravam. Às 10:20, vou-me deitar. Estou a lembrar-me muito especialmente da Isabel e apetece-me chorar, mas não posso’, pode ler-se. Aos 22 anos, tal como muitos jovens portugueses na década de 60, deixou para trás a noiva, Isabel, e foi combater em Angola. 
Entre fotografias, centenas do próprio soldado, todos os dias Etelvino Batista foi deixando impressões no papel. ‘Estive de serviço e de tarde fui à praia. Chegou esta manhã uma patrulha. O comandante desta patrulha, ao sobrevoar a mata à procura de caça descobriu um acampamento de terroristas. Certamente que teremos batidas muito em breve’. 
Dia 6 de Novembro de 1961, ‘os trabalhadores negros fugiram todos quando soaram os tiros ao almoço. Comi peixe cozido com batatas’. 
Memórias em tempo real escritas para marcar os dias como riscos no calendário a ver se o tempo passa, imagens que ficaram gravadas bem fundo na memória.’Os prisioneiros pretos que estavam sob a nossa guarda foram de avioneta para indicarem o caminho do acampamento inimigo. Na volta, foram lançados sem paraquedas’. 
O ‘DIÁRIO DE GUERRA - ANGOLA 1961-63’ de Etelvino da Silva Batista, conta 61 anos (2003), casou com Maria Isabel, a noiva que lhe coloria a memória e lhe apertava o coração de saudade, e vive entre Madrid e Lisboa como guia turístico.” 


APRECIAÇÃO DA OBRA: 
”28 de Junho de 1961 
Etelvino da Silva embarca nesse dia no paquete ‘Vera Cruz’. 
Destino: Angola. A rebelião havia estalado há poucos meses, e de Lisboa eram enviadas à pressa as unidades militares que deveriam ter estado presentes no momento em que o sangue começou a correr. 
Para Etelvino, um filho de Colares, é o inicio de um longo calvário, de mais de dois anos. 
A história pouco mais tem para contar: ao longo das cerca de 150 páginas do álbum, vamos lendo os apontamentos que o então jovem soldado lavrou religiosamente, numa base diária. 
Ali estão expressas as preocupações de um homem simples e nada mais, as saudades, essas atrozes saudades que sente de tudo o que deixou para trás, e sobretudo de Isabel, a noiva que ficou em Lisboa, o receio renovado a cada dia, com a noticia de mais e mais camaradas abatidos pelo fogo inimigo, os desentendimentos com os superiores hierárquicos, o desagrado por uma alimentação inadequada, que os soldados contornam a toda a hora com o afamado improviso lusitano, as escapadinhas com as ‘pretas’ e os pensamentos algo libidinosos que a falta de contacto com as mulheres desperta no fogoso Etelvino, a revolta perante os maus tratos infligidos aos negros pelos seus camaradas e pela Administração da Colónia, as preocupações, cada vez mais atenuadas, com o bom cumprimento do seu dever enquanto especialista em comunicações, a obsessão pela carta, recebida e enviada aos magotes, única ponte com o único mundo que lhe é familiar. 
Enfim, é todo um relato do quotidiano no além-mar, com os eventos diários esmiuçados ao pormenor. Por vezes sente-se a falta de uma continuidade. A caneta do autor inicia histórias que não chega a acabar. Por vezes perde-se o foco da narrativa, enquanto noutras ocasiões há repetições de eventos já relatados. Mas, claro, estes inconvenientes não podem ser denunciados, porque a prosa não é a de um autor. Pouco importa se não encontramos no texto um pensamento de fundo sobre a problemática africana. Não é disso que pretende tratar o livro. Trata-se apenas dos apontamentos diários de um combatente vulgar no Ultramar português.
Seja como for, as pequenas entradas diárias parecem ter cola, não se conseguem parar de ler. Talvez precisamente pelo seu carácter micro. Uma chama a outra e assim por diante, até ao final da página, da página seguinte, depois, é só mais um mês e mais um. E num instante o livro chega ao fim. 
O livro, porque a estadia do ‘nosso’ Etelvino ir-se-ia ainda prolongar, as notas correspondentes aos ultimos seis meses da guerra dele perderam-se para sempre. Mas a memória daqueles dois anos com a Companhia de Caçadores 164 não se perderá nunca mais, graças a este belo livro. 
As páginas são profusamente ilustradas com fotografias do próprio autor, algumas, por ele tiradas, enquanto outras representam-nos nos mais diversos momentos africanos. Isabel, a omnipresente Isabel, está também nestas páginas, na sua beleza portuguesa, de cabelo e olhos escuros.”
Ricardo Ribeiro, 14 de Junho de 2004 


Preço: 77,50€; 

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