Angola & Literatura - Uma obra póstuma desta escritora, poeta e médica de uma família dedicada às letras
‘TEMPO DE CHUVA’
De Alda Lara
Edições Capricórnio
Sá da Bandeira 1966
Livro com 36 páginas e em muito bom estado de conservação. Excelente.
De muito difícil localização.
MUITO RARO.
A AUTORA:
“ALDA LARA (1930 - 1962) *
Médica, escritora, conferencista, foi uma mensageira da sociedade civil, lutando através da sua poesia e da sua militância activa. Renovadora e divulgadora da poesia angolana, lutou pela independência e pela igualdade no seu país.
1- Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em Benguela a 9 de Junho de 1930 e ali passou grande parte da sua infância com o irmão, Ernesto Lara (Filho). Nascida numa família abastada, foi criada no característico meio crioulo das Acácias Rubras da década de 30.
Veio para Lisboa onde terminou os estudos liceais e, em 1948, ingressou na Faculdade de Medicina de Lisboa. tendo depois concluído a licenciatura na Universidade de Coimbra. Aí conviveu com jovens que vinham dos quatro cantos da sua terra: o Emílio Leite, o seu primo Lúcio Lara, a Maria Alice, o Ângelo Dias, o Acácio Cruz, o António Neto e os irmãos Dáskalos. Aí também conhece o moçambicano Orlando de Albuquerque com quem casa no dia 12 de Setembro de 1953. Sobre a sua formação, a própria escritora afirmou: "Ingressei em 1948 na Faculdade de Medicina de Lisboa. Uma só vontade me animava, um desejo único – fazer um curso que me pudesse tornar útil em Angola (...) Desejava apenas realizar uma vasta ação social em Angola, queria organizar postos de assistência gratuitos, cursos de puericultura e informação sanitária para as mulheres indígenas e quantas coisas mais". (EVERDOSA,1974, p. 68)
A sua tese de licenciatura sobre Psiquiatria infantil foi considerada de grande valia, motivo pelo qual recebeu o convite para ir especializar.se em Paris, mas que recusou para regressar a Angola. Chegou a realizar conferências como médica, uma das quais versou sobre trabalhos missionários realizados na África e sobre questões da assistência médica. As suas conferências tiveram uma enorme repercussão e muitas delas foram publicadas. Trabalhou no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Apesar da sua juventude, a postura de Alda perante a vida e a consciência que tinha dos problemas da sociedade em que vivia, e em cuja resolução se empenhava, rapidamente a levaram a militar nos movimentos estudantis, onde terá adquirido um conhecimento mais aprofundado da literatura dos séculos XIX e XX e das movimentações socioculturais da época.
2- Poetisa da Geração Mensagem, a escritora demonstrou, desde cedo, o seu amor pela arte. Tornou-se uma exímia declamadora de poesia. Nos seus recitais, em Lisboa e em Coimbra, Alda Lara divulgava a poesia dos poetas africanos que, naquela época, praticamente ninguém conhecia.
Durante este período manteve uma estreita ligação com a Casa dos Estudantes do Império - CEI, tendo sido igualmente colaboradora em jornais e revistas de relevância na época, tais como Revista ‘Mensagem - CEI’, o ‘Jornal de Benguela’, o ‘Jornal de Angola’, o ‘ABC’ e ‘Ciência’.
Nessas publicações, surgiram os seus primeiros escritos poéticos, também publicados em várias antologias, até surgir o seu primeiro livro, intitulado ‘POESIAS’, em 1960.
A sua luta era travada pela poesia. Nela estão patentes o exílio, a saudade da sua terra e das suas gentes, os lugares da infância, os amigos e as expectativas de um futuro em que pretendia participar.
Alda Lara tornou-se uma mensageira da sociedade civil. Exerceu influência na renovação da poesia angolana, com seu comprometimento com a luta pela independência.
Em 1962, publica o seu primeiro livro de contos, intitulado ‘Contos portugueses do ultramar’. Embora a sua obra não seja, de facto, muito extensa, em razão da sua vida atribulada e de muito sacrifício, sua expressão poética foi profunda em sentimento e angolanidade. Alda Lara carregava, na palavra, toda a ternura e a firmeza de uma verdadeira mulher africana, que se solidariza com o drama do outro. Grande narradora, nos dias que antecederam a sua morte, Alda Lara ainda escrevia um livro de contos. Embora não tenha chegado a finalizá-lo, a artista conseguiu, até onde lhe foi possível, expressar os momentos angustiantes que Angola vivia e, paradoxalmente, o seu sentimento de esperança e fé num amanhã que ela sabia que não viria a conhecer.
Já é mãe de quatro filhos quando troca uma vida estável em Paris por uma Angola em que se havia iniciado o conflito armado. Volta para a sua terra natal. Instala-se em Cambambe onde Orlando já se encontrava. Desta vez o ansiado regresso foi para sempre. Morreu poucos meses depois de ali ter chegado. Faleceu a 30 de Janeiro de 1962. Partiu cedo demais: aos 32 anos, morre de parto.
3- Obra Poética:
"...durante as lutas libertárias as mulheres desempenharam importante papel político nas organizações que lutavam contra o colonialismo. […]
No cenário literário angolano figura como precursora na poesia: Alda Lara, autora de ‘Poemas’ (1966), ‘Poesia’ (1979) e um livro de contos intitulado ‘Tempo de Chuva’ (1973). A temática de sua obra é a opressão, que assola homens e mulheres em geral, e, apesar de abordar questões universais como a fraternidade, a solidariedade e a paz, seu enfoque poético está direccionado para as formas de acção feminina na busca do espaço sonhado, em especial nos anos de 1950-1960, quando se intensificava o projecto libertário angolano.
Tal projecto nutria-se da utopia de homens e mulheres compartilharem a construção da nação idealizada pelos angolanos. Com nítida percepção do sofrimento que assolava a humanidade da época, Alda Lara ultrapassa a concepção nacionalista para ouvir as ‘vozes silenciadas’ além da África de língua portuguesa:
POEMA
Os gritos perderam-se sem encontrar eco.
Os punhos cerrados e os ódios calados
Dividiram os Homens,
que se não reconheceram mais...
Mas as lágrimas cavaram sulcos fundos
nos olhos vazios de esperança,
e os sulcos não se apagaram...
Trilhando entre o ‘eu’, o sonho e o povo, características que a aproximam de Alda Lara, Noémia de Sousa direcciona os seus versos para apreender o próprio «eu» como expressão da subjectividade feminina repleta de imagens que corporificam os desejos «espirituais, admirações, dores e sensações» (Inocência Mata, Literatura Angolana: silêncios e falas de uma voz inquieta, p. 122). […]
Numa leitura intertextual entre ‘Negra’, de Noémia de Sousa, e ‘Prelúdio’ [1], de Alda Lara, verifica-se a força da voz poética feminina, que no dizer de Inocência Mata, em Literatura Angolana: silêncios e falas de uma voz inquieta, se liga à ideia de regresso e comunhão com a Terra, com o Povo e com a causa colectiva."
As estrofes do poema ‘Prelúdio’, de Alda Lara, ilustram a busca da identificação imagética da situação a que foram expostas as comunidades africanas de língua portuguesa, em especial as mulheres, durante a colonização. (...)
"As marcas da oralidade e da História permeiam a poesia de Alda Lara […].
Entre os temas propostos pelas escritoras, está o repensar da condição feminina, num cenário social marcado pela opressão, pela submissão feminina e pelas guerras coloniais que silenciaram a confraternização presente no ritual do contar estórias em volta das fogueiras. Mas há também lugar para o amor revivificado na intersecção dos tempos, ponto de convergência entre tradição e modernidade.
A poética e a prosa femininas nas comunidades africanas de língua portuguesa colocam o leitor diante de cenas e sinais de mulheres em espera e acção, em silêncio e canto, em cansaço e renovação, metaforizadas por vozes marcadamente orais que aproximam os sentidos na reescrita literária, reinventando imageticamente o papel da mulher nessas comunidades."
In: Jurema Oliveira, ‘A escrita feminina no panorama literário africano em língua portuguesa: Alda Lara, Noémia de Sousa, Ana Paula Tavares, Vera Duarte e Paulina Chiziane’ in http://www.uea-angola.org/artigo.cfm?ID=657, 2002
4 - Cronologia das suas obras:
1958 – Antologia de poesias angolanas.
1959 – Amostra de poesia. In: Estudos Ultramarinos.
[196?] – Antologia da terra portuguesa.
1962 – Poetas angolanos. `
1963 – Poetas e contistas africanos.
1963 – Mákua 2 - antologia poética.
1963 – Mákua 3 - antologia poética.
1963 – Antologia poética angolana.
1966 – Poemas. Obra Completa de Alda Lara (edição póstuma).
1969 – Contos portugueses do ultramar (edição póstuma)
1973 – Tempo de chuva. Lobito: Colecção Capricórnio (edição póstuma).
1979 – Poesia. In: Cadernos de Lavras e Oficina (edição póstuma).
1984 – Poemas. (edição póstuma acrescida de 5 poemas inéditos).
(O seu marido, o escritor Orlando Albuquerque coligiu e publicou os seus inéditos)
A Câmara Municipal de Sá da Bandeira (actual Lubango) instituiu o Prémio Alda Lara de poesia, em sua homenagem
In: http://www.ueangola.com/…/741-alda-ferreira-pires-barreto-l…; http://jornalcultura.sapo.ao/letras/perfil-de-alda-lara-ii; http://www.antoniomiranda.com.br/…/alda-lara/biografia-alda…;http://lusofonia.x10.mx/alda_lara.htm#biobibliografia.”
(*) Biografia da autoria de Maria João Dias
Preço: 0,00€; (Indisponível)
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