Angola - Descolonização & PREC - Uma grande entrevista de Rosa Coutinho com 8 páginas onde o Almirante fala da sua prisão em 1961 pelos militares zairenses (e não pela FNLA), da descolonização enquanto Alto Comissário Português e do PREC
Revista do ‘DIÁRIO DE NOTÍCIAS’, n. 165, de 29 de Janeiro de 2000.
ROSA COUTINHO - ‘INOCENTE OU CULPADO?’
‘Rosa Coutinho foi uma das imagens de marca do ano de brasa da revolução.
Despertou ódios e paixões. É herói para uns, criminoso para outros.
25 anos depois desses dias quentes de 1975, ele acrescenta dados à história e fala sem meias medidas, como sempre.’
Lisboa 2000
Revista com 76 páginas, muito ilustrada e em muito bom estado de conservação. Excelente.
De muito, muito difícil localização.
MUITO, MUITO RARO.
A ENTREVISTA: o entrevistado e a entrevistadora:
“Se há uma figura que, 25 anos depois do Verão Quente de 1975, ainda inspira ódios e paixões, o Almirante Rosa Coutinho é seguramente alvo privilegiado desse sentimentos. Aquele que seria um ‘herói’ da revolução tornou-se, conforme as visões, um bode expiatório, um louco, um incompreendido, um criminoso. Em qualquer dos casos, Rosa Coutinho é sempre uma imagem é uma reacção.
Mas, por incrível que pareça, aos 73 anos o homem ainda não disse tudo - e esta semana, na longa entrevista que publicamos, prova que há histórias por contar, História por fazer, e versões contraditórias dos mesmos episódios que marcaram Portugal nas últimas décadas.
A entrevista só podia ter sido feita por Teresa Maia e Carmo. Ela foi uma das muitas que viveu em Angola e a Portugal retornou. Tem da descolonização uma ideia vivida e clara - que lhe permitiram manter um diálogo vivo com o Almirante sem procurar manipular ou extravasar a função de entrevistadora. É pouco comum conseguir esse equilíbrio que nos leva a acrescentar ao trabalho o tom da nossa vivência sem com isso mudar o protagonismo ou manipular as ideias dos outros.
O resultado da entrevista é obviamente polémico, como o próprio Rosa Coutinho. Mas é um dado a acrescentar aos muitos que o futuro se encarregará de estudar. Neste ano 2000, vinte e cinco anos depois do ano de brasa de 75, as palavras do Almirante podem ser um pontapé de partida para a discussão. Que se advinha dura…”
Tema em destaque:
- ROSA COUTINHO - ‘INOCENTE OU CULPADO?’
Entrevista de Teresa Maia e Carmo
‘Aos 73 anos o Almirante vermelho revela mais um bocado dos anos de brasa que trouxeram a revolução ao país e o tremendo fim de um sonho a meio milhão de residentes nas colónias. Com um largo sorriso e sem meias palavras. Como sempre.’
- “Rio para não estar triste. Tenho algum sentido e humor. E um lema: se alguém tem de se chatear, que se chateiem os outros.”
- “O MFA era uma espécie de guarda chuva que permitia à revolução desenvolver-se sem ser ameaçada. Não era o motor da revolução, como alguém disse. Chegou-se a alvitrar, e não fui eu, que o MFA concorresse às eleições.”
- “Hoje vivo da reforma. Vou vivendo alegremente. Ando bem disposto. Olhando para o correr do mundo e matutando, mas também sem desanimar.”
- “O exército português facilitou a implantação da UNITA e a sua existência. Porque o movimento nem armas tinha. Foi o exército português, a PIDE, os madeireiros, e alguns sectores da Igreja.”
- “O que senti quando morreu Spínola? Que já lá devia estar. Não fazia cá nada. Para mim, o maior herói do 25 de Abril é o Salgueiro Maia. Era um grande homem, foi um herói.”
- “A democracia está em crise na Europa. Veja o que se está passar com o Kholl na Alemanha. Eu não sou um especial defensor de Kholl, mas respeito o homem! Claro que ele terá feito os seus pecadilhos, mas está chacina pública é inadmissível.”
ALGUNS DOS ASSUNTOS MAIS POLÉMICOS:
O senhor sempre apoiou abertamente do MPLA…
- “Não. Não é verdade. Eu quando fui para Angola nem conhecia o MPLA.
Não acha de uma irresponsabilidade política brutal, mandar uma pessoa que não conhecia o que se passava em Angola para ir gerir a transição?
- “Pois é. Mas a ideia não foi minha, foi do Spínola, eu não pude foi recusar!”
Mas queria que os brancos viessem embora?
- “Eu não, porque eram gentes de Angola.”
Não sente quaisquer responsabilidades por aquela debandada aflitiva?
- “Não, por disse que para ficarem os brancos em Angola era preciso ter feito um acordo com o MPLA. E Agostinho Neto estava de acordo.”
Só com o MPLA, porquê?
- “Porque no meio de uma guerra civil era impossível que os brancos lá ficassem.”
É verdade que o senhor sai no dia em que permite que os movimentos entrem, os três, em Luanda?
- “Não, totalmente falso! Eles entraram em Novembro de 74, autorizados por mim. Só se pegaram à batatada em Junho de 75. Há aqui bases de apreciação que estão totalmente falseadas. Eu autorizei a entrada depois de conseguir o cessar-fogo. Já agora, uma história que tem a sua piada: Quando o Spínola fez aqui a sua renúncia, em 28 de Setembro, eu recebi uns dias depois um comunicado do Mobutu perguntando se os Acordos do Sal continuavam em vigor. E eu desconhecia o seu conteúdo…”
O que lhe respondeu?
-“Disse: Em princípio sim, mas vou mandar uma delegação para se confirmar o acordo de cessar-fogo. E foi uma delegação, nomeada por Costa Gomes, com o Fontes Pereira de Melo e um membro da Junta, o Comodoro Cardoso, que foram ao Zaire e vieram de lá com o acordo de cessar-fogo com a FNLA. Porque eu com o MPLA não conseguia, apesar das grandes intimidades que me atribuem. O MPLA estava muito dividido.”
Com a UNITA (o cessar-fogo), foi fácil?
- “Foi facílimo, porque já estava. A UNITA assinou o cessar-fogo antes de eu lá ter chegado.
O que pensa de homens como Agostinho Neto e Jonas Savimbi, já agora?
- “O Savimbi é tipicamente um soba africano, sem qualquer preocupação com a palavra dada no dia anterior. Prepotente e disciplinados, à custa das mortes que forem precisas e… muito mais racista do que o MPLA. O MPLA era o único que não era racista e era intertribal, mulato. Agostinho Neto estava já ultrapassado. Mas era um homem sério.”
Mas privilegiou ou não o MPLA?
- “Enquanto lá estive, privilegiei… pouco. Diz uma coisa, já como Alto Comissário: atribuir a cada movimento um subsídio do Estado: 10,000 contos/mês, o que na época era muito dinheiro.”
Mas assim armava-os?!…
- “Não… ele não tinham dinheiro para comer! Apesar de a UNITA e a FNLA terem as suas fontes de capital… O MPLA nem tinha dinheiro para comprar arroz, portanto foi uma medida que o favoreceu, embora tenha sido feita equilibradamente.”
Hoje, se voltasse a ter a mesma posição, o que teria feito de diferente?
- “Não sei. Como lhe disse fui derrotado quando me opus à ponte aérea. A ponte aérea serviu para desestabilizar a revolução portuguesa. Basta ver a quantidade de pessoas que vieram para o território dar força à contra-revolução.”
Acredita que o Estado Português alguma vez tentou cumprir os Acordos do Alvor?
- “O Estado Português sim. Os movimentos de libertação não.”
Preço: 27,50€;
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